Dizia Mário Quintana que no décimo segundo andar havia uma louca chamada Esperança. Em em meio a tantas buzinas, recos-recos e sirenes ela atirou-se no chão, fazendo um belo voo, chegando incólume na calçada. As pessoas se aproximavam e a indagavam, perguntando o seu nome. E bem devagarinho, dizia: "Es-pe-ran-ça".
Mais um ano se começa, e com um novo ano, ressurge a Louca Chamada Esperança. Ninguém ao certo sabe de onde ela vem, se do décimo segundo andar ou se de um paraíso distante. Com a promessa do novo, renasce a vontade de querer mudar tudo que foi ruim nos anos anteriores. Querem mandar embora as tristezas das perdas amorosas, as frustrações, as decepções, o beijo que nunca veio, a viagem que não foi feita, a miséria sentida, o medo pulsante, a saúde que foi falha, o desespero que foi grande, as ofensas que não se calaram, os problemas monetários, as injustiças gritantes, a violência sangrenta, os sonhos desperdiçados, a vida roubada.
Com essa promessa de um ano melhor. Não só ressurge a nossa amiga esperança, como a indagação do sentido da vida, do tempo, dos anos que passam tão rápidos como a água que seca no sertão. Será que de fato há algum sentido na vida? A fim, então, de buscar essas respostas:
Perguntei ao uma senhoria
Qual o sentido da alegria.
Soprou um gemido,
E sussurrou um sentido.
Perguntei a uma criança
Qual o sentido da esperança.
Cantarolou uma canção,
E correu como um furacão.
Até que um dia,
Uma mulher sabida
Falou que a alegria
Só precisa ser vivida.
E ainda foi capaz de afirmar
Que a paz, o amor e o bem-estar,
Não precisam de sentido
E sim ser bem usufruído.
O que precisa ser justificado
É o sofrimento mundano
Para poder ser superado
Em nosso cotidiano
Ansiedade e violência
Enfermidade e miséria
Morte e Desunião
Maldade e Desconsideração
Descompasso amoroso
Beijo frustrado
Pesadelo horroroso
Amor despedaçado
São os que precisam de explicação
Para que o nosso coração
Encontre alguma razão
Para seguir cantando a canção!
Ora pois, que no ano que renasce, sejamos exploradores de nós mesmos, vasculhemos e navegamos o mais profundamente no nosso eu e que sejamos capazes de olhar o outro com mais alteridade. Mas que não nos contentemos com isso, que sejamos ousados em ir além, pois como já proferia Guimarães Rosa, o animal satisfeito dorme. Partamos para a ação, além da reflexão. O existencialismo de Sartre e Beauvoir, pregava com outras palavras que a esperança está na ação. Pois então, que sejamos capazes de nos "esperançar" pelo resto de nossas vidas.
Fernanda Marcondes
Adorei o texto, bela reflexão e sábias palavras. Adorei em especial a parte que diz "(...) que sejamos ousados em ir além, pois como já proferia Guimarães Rosa, o animal satisfeito dorme", pois nos faz pensar em motivações para seguir em frente com os nossos propósitos.
ResponderExcluirParabéns pelo blog e muito sucesso! beijos!
Carol