"Se eu tivesse de resumir o século XX, diria que despertou as maiores esperanças já concebidas pela humanidade e destruiu todas as ilusões e ideias." Dizia o músico inglês Yehudi Menuhin acerca do século interminável. Compreender o século XX, é compreender que ele não terminou. O grande historiador Eric Hobsbawn o denominou de Era dos Extremos, dizendo que tinha se iniciado em 1914 com o colapso da 1ª Guerra (ou Grande Guerra - expressão usada por Hobsbawn - que durou 31 anos, de 1914 à 1945), e teria terminado em 1991 com o fim da União Soviética. Independentemente do calendário cronológico ou a classificação dada por grandes historiadores, as consequências do século passado ainda perpetuam nos dias atuais.
Explicar a crise da Ucrânia ou entender os conflitos na Venezuela, é lembrar dos mortos das Grandes Guerras, das ditaduras latino-americanas, da Guerra Fria. É perceber que as pessoas se dividem por interesses políticos, econômicos, sociais - e que a neutralidade ou a suposta "Terceira Via" de Norberto Bobbio não passam de ilusão. Assimilar o que se passa com a Ucrânia ou com a Venezuela não é se bastar em fatos como: "fome", "aliança com os EUA", "aliança com a Rússia", e sim não perder a historicidade dos processos.
E com o Brasil não seria diferente. Ninguém é obrigado a amar o Brasil ou concordar com a Copa, mas muito me preocupa quando as pessoas negam a historicidade dos processos econômicos, jurídicos, culturais, políticos e criticam meramente por criticar, criticam porque é legal, em um estilo parnesiano de fazer poesias: "arte pela arte", ou seja, escrever rebuscadamente porque é mais culto, esquecendo de analisar a "função social" da poesia, ou no caso, "criticar por criticar" esquecendo os processos históricos os quais são agentes das condições econômicas, sociais, jurídicas, políticas atuais do nosso país.
Falo isso porque nas redes sociais são espalhadas notícias sobre a Copa do Brasil em um tom sensacionalista, mentiroso e repleto de críticas vazias que acabam virando moda como desse site <http://forodobrasil.info/fb/nos-corredores-da-fifa-ja-se-admite-que-foi-o-maior-erro-da-historia-da-instituicao-eleger-o-brasil-como-a-sede-2014/> falando que o Brasil não é capaz de sediar um evento assim, haja vista que não temos um prêmio Nobel, realmente um prêmio Nobel nem é um prêmio também político; ou que não há Universidade Brasileira entre as 300 melhores, sendo que a USP na classificação do ano de 2013 do Times Higher Education figura entre a posição 226 e 250 melhores <http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,usp-cai-em-ranking-mundial-de-universidades,1081254,0.htm>, fora isso, esquecem de questionar os critérios de classificação das melhores Universidades, bem como esquecem de que as nossas Universidades são uns filhotes em relação ao tempo de existência comparadas com outras do mundo; ou quando falam da violência do país de forma sensacionalista, esquecendo que ela é resultado de um país que historicamente viveu um processo de desigualdade socio-econômico e a importação de um paradigma jurídico que não se encaixasse em nossa realidade social, entre outros motivos. Não quero me alongar muito na justificação das críticas infundadas que tentam deslegitimar a Copa no nosso país, nem emergir uma discussão se é certo ou não realizar a Copa no Brasil, mas sim refletir melhor um pouco esse fenômeno de "criticar por criticar" o país.
Sendo assim, vale lembrar do nosso querido dramaturgo Nelson Rodrigues que em 1950 - após a vitória do Uruguai contra o Brasil no final da Copa do Mundo no Maracanã - cunhou a famosa expressão "complexo de vira-lata" que significa nas palavras do próprio Nelson que o brasileiro se coloca como inferior perante o resto do mundo, não só em relação ao futebol e a Copa do Mundo, mas em todos os outros os quesitos. No entanto, pergunto-me. Esse suposto "complexo de vira lata" que aflige grande número de brasileiros possui qual origem? Uma má intenção em denegrir a imagem do país? Um povo influenciado historicamente pela cultura dos países "centrais"? Esses dois motivos juntos?
Não é atoa que Roberto Gomes no livro "Crítica da Razão Tupiniquim" afirma que no Brasil há uma falta de uma perspectiva filosófica baseada na própria realidade nacional, sendo esse um fenômeno que se repete na América Latina como um todo. Nesse mesmo sentido, um dos questionamentos mais importantes concretizados por Enrique Dussel - professor da Universidade Autônoma do México e um dos principais expoentes da Filosofia da Libertação - é que a cultura latino-americana formou-se privilegiando a visão do colonizador, do europeu, e por isso que o nacional e o popular correm o risco - em todos os âmbitos - de parecerem como uma cultura inferior em relação aos países do "centro". Entender melhor a formação latino-americana e os processos históricos que coadunaram com as condições atuais do nosso país, é com certeza, uma boa maneira de dar respostas a origem do "complexo de vira lata".
Não é atoa que Roberto Gomes no livro "Crítica da Razão Tupiniquim" afirma que no Brasil há uma falta de uma perspectiva filosófica baseada na própria realidade nacional, sendo esse um fenômeno que se repete na América Latina como um todo. Nesse mesmo sentido, um dos questionamentos mais importantes concretizados por Enrique Dussel - professor da Universidade Autônoma do México e um dos principais expoentes da Filosofia da Libertação - é que a cultura latino-americana formou-se privilegiando a visão do colonizador, do europeu, e por isso que o nacional e o popular correm o risco - em todos os âmbitos - de parecerem como uma cultura inferior em relação aos países do "centro". Entender melhor a formação latino-americana e os processos históricos que coadunaram com as condições atuais do nosso país, é com certeza, uma boa maneira de dar respostas a origem do "complexo de vira lata".
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